Perguntas-me pelo libreto
como se as árias que arrisco nesta descontínua partitura
já não fossem suficientes
para me cantar
digo-te
não tenho a paciência interior
dos maratonistas da alma
continuo fechado no quarto da infância
entre dicionários cromos e legos
a minha mãe ainda bate à porta
e zanga-se com a chave por dentro
continuo a improvisar os medos da infância
já escrevi e reescrevo aqui
hei-de morrer de inibições
ainda que te desiludas
negar-me-ei sempre o libreto
talvez eu sofra
de uma patologia estranha e quase arcaica
este silêncio sôfrego
e tantas vezes gaguejante.
Improviso sobre a gaguez do silêncio...
24 de fevereiro de 2005