Talvez da lixeira do Picoto
ainda se veja a cidade
antes de todas as guerras
a ponte que um dia terá sido romana
sobre o Guadalquivir
ou Rialto de todas as setas
alombando sobre o grande canal
os olhos que mergulham para dentro
cruzam todas as memórias
o flamenco e as máscaras
a certeza da porta fechada
que se abre para a noite
quando tu chegas e já não queres deitar-te
e lá em baixo outro canal
com as suas pontes de cimento
que ninguém atravessa
e Paris que corre entre nós
como se lá tivéssemos vivido
esta ausência de bússulas
que nos viaja
este mapa impossível
de tantas saudades
sem data e sem lugar
já estivemos lá
e perdemo-nos sempre.
Improviso para imaginar a Europa a partir do Picoto...
1 de agosto de 2006