Projectei o poema
a partir de quatro metáforas de garantida originalidade
todas elas tão pessoais
e intransmissíveis
(supus)
que seria improvável
para não dizer impossível
que alguém as tivesse usado antes
com as quatro metáforas
empreitei o poema
depois comovi-me ao espelho
(se o poema não comove o autor
é um poema falhado)
e
orgulhoso da obra prima
partilhei-a com o patologista de serviço
à urgência das literaturas
o diagnóstico foi fulminante
nenhuma das metáforas era original
e o poema não passava de um remendo trôpego
de alarvidades
sujeito-me agora
à expiação do copista intalentado
confesso e assino por baixo
esgotei o baú das metáforas
sobra-me apenas um destino honroso
mudar de ramo
(literário).
Improviso ao jeito de Alexandre O’Neill...
24 de janeiro de 2005